A perda de letras e a aniquilação da escritura.
A Poesia mantém-se viva não apenas através das veias de seus autores ou da leitura de seus apaixonados; mas, também, em seus eventos literários, com seus brados e rituais tribais nos frenéticos, bem-vindos! Em transmissores da net, navegando mares cibernéticos e distribuindo as palavras num turbilhão de vozes, ampliando seus domínios e vitalidade. Pena que, pela expansão descontrolada, algumas letras se perdem dos versos e criam atalhos que aniquilam a escritura. É nos versos desvirtuados do poético que uma nova tribo se formou: a dos alpinistas literários. Quem são os “alpinistas literários”, reversos de nossos versos? O que aqui chamo de ‘alpinista literário’, é aquele que se utiliza do poema para, uma vez no círculo dos devotos da Poesia, alcançar alguma notoriedade, apelando para atitudes e palavras antiéticas, num mundo que , acredita ele !, o destacará da multidão (?), amenizando sua noite infértil. A intenção maior é sempre a autopromoção, e, para tal, o vaidoso não mede esforços, muitas vezes, tripudia, com palavras e comentários grosseiros e desdenhosos, qualquer um que lhe pareça (embora nunca o vá confessar!) ameaça ao status (?) conquistado, ou que acredite não ser ‘importante’ para sua ascensão. Ora, ser poeta (pelo menos, como eu entendo o exercício da poesia) não é (apenas) carregar medalhas no peito, vestir fardões, publicar livro, receber prêmios, ou saltitar de evento em evento ao modo das socialites. O poeta jamais vive, ou viverá, unicamente, voltado para si mesmo, ele é habitado por miríades de outros seres e paisagens, é o porta-voz, o observador compulsivo, de suas infinitas formas, dúvidas, qualidades, defeitos, alegrias, dores e amores. O poeta deseja é ser parte da multidão e passar despercebido para melhor observá-la, já que dela se alimenta. O que ele (o alpinista) não alcança - súdito da vaidade exacerbada - é que a Poesia enxerga além. O poeta é um louva-deus no jardim da humanidade, nunca um gafanhoto.
Márcia Leite
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